O Derradeiro Refúgio

 

O Derradeiro Refúgio

 

 

 

 

 

Por André Nunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Emílio

 

 

Nascido no México, Emílio foi viver nos Estados Unidos da América aos sete anos de idade, quando sua mãe atravessou a fronteira ilegalmente, levando também consigo suas duas filhas mais velhas. Foram atrás de melhores oportunidades, mas até vir a estabilidade financeira passaram fome e necessidades diversas. Ao atingir a maioridade, Emílio conseguiu se alistar no exército, onde conseguiu chegar a capitão. Tendo recebido treinamento especial, foi enviado para o Iraque e esteve entre os militares que descobriram o esconderijo dos filhos de Saddam Hussein. Participou também da eliminação dos mesmos. De volta aos Estados Unidos, Emílio, tendo discutido com um superior, sacou de uma pistola e o executou, fugindo em seguida para seu país natal. Ao perceber que um grupo de militares americanos disfarçados em civis o espionava nos arredores de sua residência, provavelmente para mata-lo ou leva-lo a julgamento, despistou-os e fugiu para o Brasil sem deixar rastros. Emílio, para sobreviver, passou a realizar assaltos a bancos, sozinho, de tempos em tempos, sem deixar pistas, intrigando a policia brasileira. Naquela tarde de quatorze de abril de 2009, ele mais uma vez pôs sua pistola dentro da mochila embaixo de várias folhas de jornal amassadas e partiu para o Largo do Bicão. Adentrou uma agência bancária sem problemas, uma vez que sua arma era feita de material não acusada no detector de metais. Com seu treinamento militar especial, tratou de render e desarmar os dois vigilantes presentes. Um sargento bombeiro tentou sacar sua arma, mas foi detido antes que pudesse reagir. Emílio era atento. Rapidamente, pegou todo o dinheiro dos caixas e também dos clientes que se encontravam na fila, enfiou a mão dentro da mochila e retirou todo o jornal amassado, colocando o dinheiro e saindo em seguida. Riu, ao imaginar que os jornais relatariam no dia seguinte que o ladrão solitário com sotaque estrangeiro havia agido novamente. Voltou pro conjugado que havia alugado em Copacabana dois meses atrás. Não ficava muito tempo no mesmo lugar. Se mudaria em uma semana. Deviam estar lhe procurando, já que não usava máscara nos assaltos. Pensava em sair do Brasil. Não demoraria a ser preso se continuasse vivendo no país. Iria para o Peru, onde viveria melhor, beneficiado pelo idioma que falava desde que se conhecia por gente. O dinheiro que conseguiu com os assaltos daria para iniciar um pequeno negócio em Lima. Levou um susto, quando contava o dinheiro, pois a campainha tocou. Sacou a pistola e se dirigiu pra porta. Não o pegariam vivo. Sabia que seria extraditado para os Estados Unidos, onde seria sentenciado à pena de morte pelo homicídio do tenente-coronel.

  • Quem está aí?

  • Telegrama.

  • Telegrama para quem?

  • Não tem nome, só endereço.

  • Passe por baixo de la porta.

Emílio, que ainda achava se tratar de uma armadilha, pegou o envelope, que tinha como remetente um tal Coronel Jacinto. Abriu-o rapidamente e leu “Parabéns por mais um assalto bem sucedido. Lhe convoco para uma reunião hoje no endereço abaixo as 20:00 hs. Pode vir sem medo, pois não se trata de armadilha, mas sim de assunto de seu interesse.”. Emílio estremeceu quando o rapaz dos correios bateu na porta.

  • Quem é?

  • Sou eu, o rapaz do telegrama. Preciso que o senhor assine e me devolva o canhoto.

O assaltante de bancos mexicano, que era alto, esguio, moreno e de cabelos muito curtos, assim o fez. Estava intrigado. Como não poderia ser uma armadilha? Aquele tal coronel, se é que era realmente um coronel, sabia seu segredo. Como explicar aquilo? De repente, lhe deu um estalo. Era coisa dos militares americanos. Só podia ser. Não o haviam dedado a policia porque queriam seqüestra-lo. Iriam enfia-lo num avião e lhe levar de volta aos EUA, onde seria sumariamente condenado à morte. Juntou todo o dinheiro que tinha no apartamento, enfiou dentro da mochila, pôs sua pistola na cintura, grudou um revolver calibre 38 cano curto ao tornozelo com elástico e partiu pra rua, na intenção de desaparecer, mas logo ficou paranóico, achando que todos por quem passava estavam lhe vigiando, então, retornou as pressas ao conjugado. Pôs as mãos na cabeça e quase entrou em pânico. Se fossem os militares novamente, jamais o deixariam escapar de novo. O matariam, ainda que fosse no meio da rua, na frente de outras pessoas, para que não fugisse. Decidiu esconder todo o dinheiro e ir a tal reunião. Tentaria comprar sua fuga, subornando quem fosse necessário.

 

 

 

Vandré

 

 

Aos cinco anos de idade Vandré, foi matriculado pelo pai em várias academias de artes marciais de São Paulo. O pai dele, fã incondicional de um antigo programa de televisão chamado Faixa Preta, que apresentava vários artistas marciais da época, principalmente o aclamado Bruce Lee, sonhava em ver o filho hábil como um dragão do kung fu. Conseguiu. Aos sete, o menino já se apresentava em programas de auditório. Aprendeu a manusear nunchaku, shuriken, entre outras várias armas orientais. Aos treze anos, se mudou para o Japão com o pai, onde continuou seus estudos, desta vez, com verdadeiros mestres orientais. Aos dezenove anos, quando já havia se tornado uma verdadeira máquina de lutar, viajou pra Hong Kong, onde participou de alguns filmes de luta. Dois destes filmes tinham como astro o grande lutador e ator Jet Li, de quem Vandré era fã e com quem teve oportunidade de atuar. Com o falecimento do pai, Vandré voltou ao Brasil, para enterra-lo, e acabou ficando. Com a morte de seu maior fã e inspirador, o rapaz, agora com vinte e sete anos de idade, acabou por gastar todo o dinheiro que havia ganhado com a participação nos filmes orientas, e, para completar, queimou o que restou do dinheiro do falecido pai. Estava falido e enfiado em dividas, e o que era pior, viciado em drogas e álcool. As madrugadas convidativas de São Paulo o levaram a uma dependência escabrosa. Já havia recebido três avisos do agiota que lhe emprestara dinheiro, por isso achou que o telegrama que acabara de receber se tratava de um ultimato dele. Abriu-o e leu-o desanimadamente. “Parabéns, sr. Faixa Preta!!! Acaba de ganhar uma oportunidade de quitar suas dividas, principalmente com seu agiota, que já está de saco cheio de esperar. Reunião amanhã às 20:00 hs no endereço abaixo. Não se atrase. Pegue o primeiro vôo. Assunto de seu óbvio interesse.”. Franziu a testa, tornou a ler a mensagem, tornou a franzir a testa, sentou-se no sofá, coçou o queixo, então ligou para uma tia, a quem pediu dinheiro emprestado pela décima quinta vez, e, como a resposta foi negativa, apelou.

  • Dessa vez é para emprego, tia, juro. Recebi uma proposta irrecusável de um coronel do Rio de Janeiro. Não tenho dinheiro pra passagem. Assim que voltar, lhe pago tudo o que devo, ok?

  • Só quero ver. Sua dívida já vai longe. Do que é que se trata?

  • Ele não falou, mas vou disposto a aceitar qualquer coisa, desde que pague bem.

 

 

 

Miss Bocaina

 

 

Ela chegou em seu apart-hotel esgotada. A seção de fotos havia durado toda a manhã e a maior parte da tarde. Alice se revezava entre modelo fotográfica durante a semana e ladra de relíquias nos fins de semana. Trocou o Brasil pela Europa aos dezessete anos de idade, quando foi descoberta por um empresário francês de passagem pelo Brasil. Foram dois momentos de felicidade extrema em menos de dez minutos. Num minuto, estava acima de um palanque, sendo condecorada como a mais nova miss Bocaina, sua cidade natal, no outro, ao descer do palanque, fora convidada para uma seção de fotos em Paris e alguns testes na passarela. É claro que foi aprovada. Estava rica e ficando famosa. Rica, mais pelo rendimento dos fins de semana do que pelas fotos. Jogou-se na sua cama de casal enorme e pôs-se a lembrar do namorado, morto pela policia inglesa. Juan era um gênio espanhol. Gênio do mal. Filho de magnatas espanhóis, a principio, por diversão, depois por dinheiro, se especializou em furtos quase impossíveis a museus, galerias de arte e joalherias, geralmente entrando pelo teto ou por onde achasse uma falha na segurança. Alice se envolveu com ele em seu primeiro ano na Europa e logo se apaixonou perdidamente. A convite do namorado, passou a acompanhá-lo em seus assaltos incríveis, aprendendo cada detalhe, absorvendo cada ensinamento. No dia em que ele cometeu seu primeiro erro, ela estava em sua companhia, dentro de um famoso museu de arte, na Inglaterra. Alice, que saiu primeiro, conseguiu fugir. Juan foi abordado, já na rua, mas resistiu à prisão e foi morto. A distancia, ela conseguiu ver o tiro fatal ser disparado. Sabia que era questão de tempo para que o mesmo acontecesse com ela, mas não conseguia deixar aquele estilo de vida para trás. A adrenalina daquela fantástica aventura a deixava louca. De repente, ouviu sirenes. Aquele som era comum em Paris, mas algo estava soando mal. Eram sirenes de várias viaturas, e pareciam estar se aproximando rápido. Saltou da cama o mais rápido que pode. Prendeu os cabelos com uma toca e colocou uma peruca de cabelos castanhos, já que era loira por natureza. Cobriu os olhos azuis claros com lentes de contato também castanhas, jogou algumas jóias recém-adquiridas ilicitamente dentro de uma pequena mala, conferiu seus cartões bancários, pôs todo o dinheiro que tinha dentro dos bolsos, correu pro corredor, batendo a porta e tratou de acionar o elevador o mais rápido que pode. Quando chegou no amplo saguão do hotel, a movimentação de pessoas era intensa e um policial perguntava ao rapaz da recepção onde ficava o apartamento da modelo. Ela engoliu em seco. Estava confirmada sua suspeita. Tinham descoberto tudo. O policial sinalizou para outros três que estavam de guarda em frente à porta de acesso principal do hotel e todos correram para o corredor de elevadores, passando por ela, que tentava transparecer calma. Lá fora, várias viaturas, rodeadas por outros policiais, estavam estacionadas ao longo da rua. Alice teve sorte de não ter sido parada por nenhum dos guardas. Pegou um ônibus até a estação do trem bala e só saltou na Alemanha, horas depois, indo direto para o aeroporto. Teve medo de que a interpol já houvesse colocado seu nome na lista de suspeitos procurados, então, usou o passaporte falso que havia tirado quando seu namorado Juan ainda era vivo e embarcou para o Rio de Janeiro. Três meses depois, instalada no Hotel Glória com nome falso e ainda disfarçada com a mesma peruca e lentes, Alice recebeu um telegrama em seu nome verdadeiro. Negou para o rapaz dos correios que era a destinatária, mas assinou o nome falso e recebeu o documento, sendo censurada por ele. “Sua última fuga foi brilhante. Você tem mesmo talento. Preciso vê-la hoje as 20:00 hs no endereço abaixo. Não deixe de ir e seu segredo estará seguro.”. De principio achou que alguém a havia reconhecido e queria rouba-la, mas a adrenalina a impulsionava a ir ao encontro. Ela jamais deixaria de estar lá.

 

 

Ernesto

 

 

 

Nasceu em Buenos Aires e se alistou na marinha, tendo participado da guerra das Malvinas, contra a Inglaterra. Foi condecorado por bravura e considerado herói de guerra. Se aposentou como tenente e foi morar numa cidade interiorana, fugindo da agitação da cidade grande. Certo dia, após beber muito em um bar próximo de sua casa, Ernesto discutiu com um rapaz, que acabou por xinga-lo. Ernesto tentou acertar-lhe um soco na face, mas o jovem desviou e contra-atacou com potente cotovelada no estomago. O rapaz e mais dois amigos riram dele, caído no chão, impotente. Quando Ernesto disse aos três que era um herói de guerra e devia ser respeitado, o trio soltou gargalhadas. Humilhado, o militar reformado sacou um revolver e atirou várias vezes, cometendo um triplo homicídio. Ernesto passou em sua casa, pegou o pouco que era importante e partiu pra fronteira com o Brasil, indo se esconder no Paraná. Já estava por lá havia quase um ano, vivendo de pequenos bicos, quando um telegrama lhe chegou. Assinou e abriu, sem dizer uma palavra. “Sua vida acaba de mudar. Um homem com o seu talento não pode se entregar tão facilmente. Espero sua visita no endereço abaixo às 20:00 hs de terça-feira próxima. Não falte.”. Ernesto não conhecia o tal coronel Jacinto, mas tinha certeza que as forças armadas brasileiras estavam lhe solicitando para um trabalho mercenário, e ele precisava muito fazer dinheiro. Foi a uma quitanda onde pegava mantimentos fiado e pediu dinheiro emprestado ao proprietário, com a promessa de paga-lo em dobro quando retornasse, depois, entrou em um ônibus e partiu pro Rio de Janeiro.

 

 

Bil

 

 

 

O agente penitenciário foi avisar Bil que seu advogado estava lhe aguardando. Bil pulou do canto onde estava sentado e seguiu o agente, que ia lhe conduzindo. Chegando ao local, Bil estranhou. O homem de terno que estava ali lhe era desconhecido.

  • Sente-se, Bil.

  • Quem é você?

  • Seu advogado.

  • Claro que não é. Meu advogado é o dr. Cabral. O que houve com ele?

  • Não sei.

  • Não foi ele quem o mandou?

  • Eu nem sequer o conheço.

  • Que palhaçada é essa, então? Não vou falar contigo. Só falo com o meu advogado.

  • Seu advogado agora, sou eu.

  • Quem decide isso sou eu, meu chapa. Até logo.

  • Calma, Bil... Diga-me, o que o dr. Cabral conseguiu a seu favor até o presente momento?

  • Que eu saiba, porra nenhuma.

  • Viu?

  • É...? E você, dr. desconhecido, o que conseguiu? Alguma novidade positiva no meu processo?

  • Pouca coisa. Só um hábeas corpus.

  • Que brincadeira é essa?

  • Não há brincadeira.

  • E quando eu vou ser solto?

  • Daqui a alguns minutos. O oficial de justiça designado já está vindo pra cá.

  • Caramba... Quanto eu te devo por isso?

  • Digamos que eu não te cobrarei nada, desde que me prometa estar neste endereço na hora marcada.

O enigmático advogado lhe entregou um bilhete, que Bil tratou de ler em voz alta. Ao término, indagou.

  • Você vai estar lá?

  • Sim, mas você deve procurar pelo coronel Jacinto.

  • E sobre o que será minha reunião com o coronel?

  • Isso é assunto pra ser tratado fora da prisão. O coronel lhe deixará a par de tudo.

Ao ver o oficial de justiça se aproximar com um mandado de soltura expedido por um juiz criminal, o estelionatário e falsário de longa ficha sorriu.

 

 

 

WX

 

 

 

Seu nickname na internet era WX, mas a pessoa que bateu a porta lhe chamava pelo nome de batismo, Felipe. Como havia alugado aquela sala comercial no edifício central, no centro do Rio de Janeiro, havia apenas dois meses e ninguém que conhecia sabia disso, achou que se tratava do proprietário do imóvel, com quem havia tratado diretamente, dispensando imobiliária. Sua primeira atitude foi retirar a campainha, já que desejava não ser incomodado. A sala era comercial, porém, Felipe, um dos maiores hackers brasileiros, aos dezenove anos de idade, a utilizava como base para seus ataques virtuais. Era ali também onde mantinha com segurança seus dois milhões e meio de reais que conseguira ilicitamente, desviando de contas bancárias. Apesar de fazer isso para ganhar dinheiro, WX gostava mesmo era de criar vírus e enviar-lhes livremente pela rede. Levantou-se e se dirigiu até a porta, na certeza de que a abriria e veria seu locador. Gelou dos pés a cabeça, quando deparou com dois homens trajando ternos escuros. Imaginou de imediato que se tratavam de policiais federais e que lhe dariam voz de prisão naquele momento, assim como apreenderiam ou roubariam todo seu dinheiro. Se arrependeu terrivelmente de ter escolhido aquela sala para base. O fizera porque ali naquele mesmo prédio se concentravam inúmeras lojas e quiosques de artigos de informática, o que seria de total praticidade para quando tivesse que adquirir algo. Um dos homens, por sinal o mesmo que, naquele mesmo dia, pela manhã, se anunciou pro detento Bil como seu advogado, enfiou a mão no bolso direito e puxou um papel.

  • Esteja neste endereço na hora marcada. É assunto de seu interesse. A propósito... Não se preocupe. Seu segredo está seguro conosco.

Felipe não conseguiu dizer nada. Ficou ali parado alguns segundos, vendo os estranhos se afastarem na direção dos elevadores, depois, bateu a porta e se dirigiu até a cadeira, onde sentou. Começou a achar que eram detetives particulares contratados por alguma das empresas que lesou, mas por que deveria ir até o tal local? Felipe tinha um grande defeito. Era curioso ao extremo. Jamais deixaria de ir, ainda que sua vida corresse perigo.

 

 

Dante

 

 

 

Desde que desviou dinheiro da máfia siciliana e fugiu para o Brasil, Dante, um dos maiores matadores italianos de todos os tempos, mudou seu nome para Pasquale. Vivia em Ipanema desde então, tendo se casado e até ganhado um casal de filhos gêmeos. Sua vida iria muito bem, não tivesse ele se viciado em bingos e apostas em cavalos. Dos quinze anos que estava no Brasil, perdera setenta por cento do dinheiro nos últimos três. Estava para quebrar e não sabia o que fazer, quando lhe chegou um telegrama que foi recebido pela empregada. Ao dar-lhe o papel na mão, a jovem recebeu a maior bronca que já teve em vida.

  • Vaca... Não está vendo que está em nome de um tal de Dante. Você desgraçou a minha vida.

A pobre menina correu para a cozinha, aos prantos, enquanto Dante, tremendo, abriu o documento. “Venha ao endereço abaixo na hora marcada. Proposta de emprego irrecusável. Não se preocupe, não somos mafiosos.”. Dante sabia que alguém o havia descoberto, mas realmente não parecia coisa da máfia. Nem de perto era seu estilo. A máfia atacava quase sempre de surpresa, com bomba ou saraivada de balas. Sempre achou que morreria ao entrar em seu carro e este de repente explodiria ao virar a chave na ignição, ou seria metralhado ao pôr os pés na rua. O trecho que dizia que a proposta de emprego era irrecusável o agradava. Por outro lado, se alguém precisava dele, seria para fazer o que fazia melhor, e havia tempos que se sentia no mais puro ócio. Estava louco para voltar a apertar um gatilho e a oportunidade acabara de aparecer. Ao enfiar o telegrama dentro do bolso, percebeu que sua empregada, que ainda chorava, estava com suas malas feitas, se despedindo das crianças. Como todo bom mafioso, pediu-lhe desculpas gentilmente e beijou-lhe nos olhos e nas bochechas. A jovem, que não esperava por aquele tipo de reação da parte dele, ficou desbancada, aceitou as desculpas, enxugou as lágrimas, sorriu, e enfim, voltou ao trabalho.

 

 

Bolado

 

 

 

Em sua bombástica carreira de crimes, Bolado já havia assaltado carros forte, bancos, empresas e, por último, traficado drogas, até chegar a chefão em uma favela na zona sul do Rio de Janeiro. Após levar vários tiros, em circunstancias diferentes, dentre eles um de fuzil, e sobreviver, Bolado decidiu largar aquele estilo de vida, antes que fosse morto ou preso. Pegou todo o dinheiro que tinha, e não era pouco, colocou os três filhos pequenos e a esposa dentro de um carro e partiu para Angra dos Reis, onde comprou uma casa e um restaurante a beira da praia. Passou a levar a vida com a qual sempre sonhou, até que, num dia ensolarado, quatro homens se sentaram em uma mesa, e após beberem algumas cervejas, se aproximaram do balcão e lhe deram voz de prisão. Eram todos policiais civis verificando uma denúncia anônima. Alguém o havia reconhecido, provavelmente um cliente carioca que passou pelo restaurante. Algemado, foi conduzido até a viatura. Após horas na delegacia, um homem se dizendo seu advogado se aproximou dele e, ao se curvar, cochichou em seu ouvido.

  • Se quiser sair daqui agora mesmo, confirme tudo o que eu disser.

O tal advogado, mesmo homem que visitara Bil na prisão e WX no edifício central, perguntou onde estava o delegado e o por que de seu cliente continuar algemado no interior da delegacia. O próprio, então, se aproximou do engravatado, que estava a beira de causar um escândalo.

- Quem é o senhor?

  • Advogado do sr. José Luis.

  • E quem é José Luis?

  • Aquele ali é o meu cliente, que foi preso sem motivo aparente.

  • Sem motivo aparente? Seu cliente é um traficante carioca procurado por vários crimes.

  • O senhor vai me desculpar, mas o meu cliente jamais esteve envolvido em qualquer tipo de ato ilícito. É um comerciante nato e pai de família exemplar.

  • Coisa nenhuma. Ele é conhecido como Bolado, mas o nome verdadeiro é Wellington Ferreira da Silva. Ele era dono de várias bocas de fumo na zona sul.

  • Meu cliente viveu toda a sua vida na Baixada Fluminense, nunca tendo colocado os pés numa favela na zona sul do Rio de Janeiro. Aqui estão os documentos dele. Seu nome é José Luis de Souza Barros, pode verificar, os documentos são autênticos. Meu cliente não tem culpa de ser parecido com um traficante procurado.

O delegado franziu o cenho, analisou os documentos e entrou para sua sala com eles. O advogado se aproximou de Bolado e mais uma vez cochichou em seu ouvido.

  • Você, em algum momento, chegou a confessar que era o cara?

  • Não, mas perguntei por que estava sendo preso e disse que qual fosse o motivo, podia ter desenrolo.

  • É... Mandou mal, mas acho que dá pra quebrar. Onde estão os policiais que efetuaram a prisão?

  • Dois saíram e os outros dois são aqueles ali em pé, olhando pra nós. O delegado deve estar verificando os documentos. Vai babar.

  • Não vai babar não, meu amigo. Vai por mim. Tem dois grandes profissionais por trás disso.

O delegado, finalmente, saiu de sua sala, se dirigiu até os policiais civis que ainda se encontravam ali, e, após um quase principio de discussão entre eles, o mais afoito se dirigiu na direção de Bolado com uma chave na mão, com a qual retirou sua algema, mandando-o ir embora. Já dentro da S-10 do advogado misterioso, Bolado riu, aliviado.

  • O que aconteceu aqui, cara? Quem é você, afinal? Foi minha mulher quem te contratou?

  • Não, até porque não sou advogado coisa nenhuma.

  • Como não? É claro que é.

  • Claro que não sou.

  • O que foi aquilo lá dentro, então? Encenação?

  • Eu chamo de representação.

  • Quem é você, então?

  • Me conhecem como Quebra-Galho, por causa de minha arte de simular. Os documentos falsos são obra do talentoso Bil. Eu sabia que não dariam problema porque antes de vir ao seu encontro, pedi a WX que os tornassem autênticos pelo sistema.

  • Cara, vocês são os caras... Por que me ajudaram?

  • Porque agora, você vai nos ajudar. Você é o último recruta do nosso esquadrão. Está atrasado pra reunião de dois dias atrás.

  • Que reunião?

  • Você não recebeu um telegrama nos últimos dias?

  • Não.

  • Não tem problema. Ligue pra sua esposa e avise que já está solto e bem, mas que vai passar uns dias no Rio de Janeiro a trabalho.

 

 

Quebra-Galho

 

 

 

Desde pequeno, percebia-se que Cláudio possuía Q.I. acima da média normal, mas o garoto se destacava mesmo era quando criava personagens. Ator nato, representava um médico, depois um vaqueiro, juiz, e daí por diante, sendo aplaudido por toda família. Aos vinte e seis anos de idade, depois de ter viajado por quase todo o Brasil, levando sua peça teatral e seus companheiros de palco consigo, chegou a sua casa, em Juiz de Fora, cansado. Voltaria a se reunir com seus amigos atores, para criar nova peça teatral, dentro de algumas semanas, no Rio de Janeiro. Horas depois, a campainha o tirou da cama. Um homem de meia idade, de terno e gravata, gentil e cordial, que se dizia admirador dele, entregou-lhe um cartão nas mãos e pediu-o para procura-lo assim que estivesse novamente no Rio de Janeiro. Queria lhe apresentar a alguém muito importante, que tinha uma proposta de emprego irrecusável. Curioso e ansioso para descobrir o que o tal homem tinha para lhe oferecer, achando se tratar de um empresário do ramo, autor de novelas ou dono de emissora de televisão, partiu para o Rio de Janeiro antes do previsto. Chegando ao endereço do cartão de visitas, percebeu ser apenas um prédio residencial normal, na Tijuca. Pediu ao porteiro para lhe anunciar ao sr. Antunes, e, após liberação do morador, subiu de elevador. Ao adentrar o apartamento, foi convidado a se sentar no sofá e ganhou um copo de whisky.

- Antes de apresenta-lo ao meu patrão, gostaria de conversar contigo.

  • Ótimo.

  • Quanto tem ganhado, aproximadamente, contracenando com seus amigos de teatro?

  • Por mês?

  • Sim.

  • Uns seis ou sete mil reais.

  • Lhe ofereço vinte mil por mês, para começar.

  • Ótimo, mas do que se trata?

  • Você vai continuar fazendo o que sabe melhor. Representar. Só que dessa vez, estará trabalhando pro coronel Jacinto. Nunca usamos nossos nomes verdadeiros em serviço, por isso, seu codimome, daqui pra frente, será Quebra-Galho. O meu, é Arsenal.

Desta maneira, Cláudio se tornou o segundo homem a aderir ao esquadrão.

 

 

Arsenal

 

 

 

Antunes era policial federal aposentado e conhecia tudo sobre armas. Sua obsessão por elas havia começado ainda antes de passar no concurso. Além de coleciona-las, possuía também centenas de livros, nacionais e importados, sobre o assunto. Passava horas limpando-as e lustrando, em sua casa de Teresópolis. Quando queria dar uns tiros, colocava algumas dentro de sua Pajero e partia pra dentro do mato, não para caçar, mas para praticar tiro ao alvo em pedras e árvores. Já chegara ao montante de mais de cem armas de fogo, de todo tamanho e calibre, adquiridas legal ou ilegalmente. Orgulhava-se de sua coleção. Todos os fins de semana, fazia questão de estar com elas, como se fossem parentes a ser visitados. Numa segunda-feira, quando de retorno a seu apartamento na Tijuca, foi visitado por um homem que aparentava sessenta anos de idade, porém de saúde que impressionava. O tal homem se identificou como coronel Jacinto e lhe perguntou algo que não tinha como saber.

  • Como vai sua coleção de armas?

  • Armas? Não sei do que está falando.

  • Não precisa se preocupar comigo, Sr. Antunes, seu segredo está protegido. Estou aqui porque venho lhe observando há algum tempo. Conheço toda a sua ficha e sou um admirador seu. Por lhe conhecer e admirar, estou aqui pra lhe oferecer emprego. Gostaria que fosse meu guarda-costas e braço-direito. O que o senhor me diz?

  • Não, obrigado. Estou aposentado.

  • Acho que não vai se arrepender, se reconsiderar, Sr. Antunes. O salário é bom e o senhor terá contato com um acervo de armas inigualável.

Os olhos de Antunes faiscaram. Aquele homem havia usado o argumento certo para convencê-lo. Alguns dias depois, Antunes ganhou o codinome de Arsenal e partiu para Minas Gerais para recrutar Cláudio, que ficaria conhecido como Quebra-Galho. Por intermédio de antigos conhecimentos na policia federal, Arsenal conseguiu uma carteira falsa de advogado para o pupilo, que mais tarde foi substituída por outra mais autentica, cedida por Bil e endossada por WX.

 

 

Calhambeque

 

 

 

Calhambeque era um mulato baixinho e gordinho. Em mais um dia de “trabalho” nos calçadões apinhados de gente do centro de São Paulo, já havia conseguido trezentos e cinqüenta e cinco reais, e ainda era 13:45 hs. Coçou o nariz, tirou uma bolota de meleca, esfregou-a na calça jeans e resolveu parar um pouco pra almoçar. Seu “negócio” era tão rendoso que já possuía casa de três andares e carro popular zero. Não pensava em constituir família, pelo menos ainda. Estava com trinta e quatro anos de idade. Se achava novo demais para assumir um compromisso. Entrou num botequim de segunda e pediu uma feijoada completa. Depois de almoçar, ficou ali, sentado pelo menos mais quarenta minutos, fazendo a digestão, depois, pagou a conta, deixando gorjeta pro garçom e saiu para o segundo tempo. Deu somente cinco passos antes de voltar a agir. Sua vítima era um homem muito bem vestido, ao estilo esporte fino. O sujeito só deu por falta da carteira trezentos metros depois, quando sentiu um certo friosinho dentro do bolso vazio. É claro que Calhambeque estava longe dali, já procurando nova vítima. Coçou a sobrancelha, deu um espirro e aproveitou o súbito engarrafamento humano para abrir o zíper da bolsa de uma senhora de meia idade que só ficou sabendo do furto de sua carteira ao entrar, minutos depois em uma boutique e constatar que não teria como pagar as duas blusas e três calcinhas que havia escolhido. O afanador então achou que já havia ganhado o suficiente por um dia de “trabalho” e começou a se dirigir à rua íngreme onde sempre deixava seu Gol última geração estacionado aos cuidados de um flanelinha. Pagou o rapaz, que estava em frente a uma loja de ração de animais e quando tirava a chave do bolso para abrir a porta, sentiu uma pressão familiar nas costelas. Arsenal lhe encostara uma pistola, mas sabia que em hipótese alguma precisaria usá-la. Conhecia o tipo. Não andava armado e não haveria reação. Talvez, muito improvavelmente, tentaria fugir, correndo. Calhambeque levou as mãos para o alto e pediu que não atirasse.

  • Vamos negociar. Tenho algum dinheiro aqui comigo. Não precisa me matar.

  • Não vim até aqui pra te matar, e abaixe os braços. Ninguém mais faz isso. Está chamando atenção.

  • Vai me prender? É policial?

  • Sou policial, mas não vim te prender. Quero negociar. Quanto você ganha roubando transeuntes?

  • Por dia ou por mês?

  • Por mês.

  • Uns dez mil.

  • Pois eu te darei o dobro para trabalhar pra mim. Vai se arriscar muito menos e ter o apoio de uma equipe inteira, vinte e quatro horas por dia.

  • Puxa... O que preciso fazer?

  • Ir a este endereço na hora marcada. Não deixe de ir. Não vai se arrepender.

Arsenal guardou a arma e se afastou dali, deixando o pequeno ladrão a sorrir.

 

 

Galileu

 

 

 

Alcir estava assistindo um jogo de futebol na TV à cabo, deitado em seu sofá enquanto seu casal de filhos brigava atrás dele. Alheio aos pedidos de sua esposa, que estava na cozinha do apartamento preparando o almoço, para intervir no “confronto”, acabou tendo de se levantar para atender ao interfone.

  • Pois não?

  • Sr. Alcir Mattos Leal?

  • Isso...

  • Telegrama pro senhor.

  • Vou acionar daqui, você empurra daí.

Alcir estava morando em Vila Velha desde que perdeu o emprego de piloto de helicóptero em Vitória. O aluguel daquele apartamento era mais barato e ele podia ficar mais perto da família de sua esposa, o que era importante, pelo menos para ela. Assinou o documento e abriu, na certeza de estar sendo convocado pra uma entrevista de emprego, pois havia mandado Curriculuns Vitae para diversas agências de emprego e sabia que não ficaria muito tempo desempregado. O telegrama dizia para estar dentro de três dias no Rio de Janeiro e trazia hora e local. Ficou elétrico com a oportunidade de retornar à sua cidade natal, da qual havia saído desde que casou-se com Marisa. Havia largado bom emprego no aeroporto Santos Dumont para ser piloto de celebridade no Espírito Santo. Uma fofoca ridícula de que teria dito que levou sua patroa para a cama chegou aos ouvidos dela, terminando em demissão. Agora, pelo que tudo indicava, poderia estar voltando ao Rio de Janeiro, para perto de seus pais.

 

 

Machado

 

 

 

Médico bombeiro da ativa, Machado ficou surpreso ao ser convocado por meio de um telegrama para uma reunião que iria acontecer naquele mesmo dia. O documento dizia para não deixar de ir, por ser oportunidade única de seu interesse. Ficou ainda mais surpreso por ter recebido o tal telegrama dentro do quartel em que servia, na rua Frei Caneca, no centro do Rio de Janeiro. Ao terminar seu turno, passou em uma loja de grife na avenida Rio Branco, pensando se tratar de um coquetel ou coisa parecida. Comprou tudo o que usaria mais tarde, pagou com o cartão de crédito e foi embora, ansioso. Quando ainda tomava banho, ouviu os gritos de sua mulher do lado de fora, querendo saber onde iria, e por que havia comprado roupa nova. Sabia que ela jamais acreditaria que se tratava de um evento. Pra ela, uma amante era o motivo óbvio, por isso, antes que tivesse uma síncope, a convidou para ir consigo. Foi o suficiente para acalmar os ânimos. A paz voltou a reinar. Porém, tão logo ele saiu do boxe e ela entrou, Machado pegou as sacolas que continham as roupas que havia comprado e saiu escondido, indo se vestir na casa de um amigo. Deixou até mesmo o celular em casa, pois sabia que não pararia de tocar um minuto que fosse.

 

 

Xavante

 

 

 

Ele já não sabia quanto tempo fazia que estava mendigando nas ruas de Manaus. Em uma das raras vezes que se via sóbrio, pensava em toda a sua trajetória até aquele momento. Nasceu em uma aldeia de índios Mayoruna, na Amazônia, onde se criou. Casou-se com a índia que considerava a mais bela de sua tribo, pra quem caçava. Numa manhã fria, foi acordado pelos gritos dela, aparentemente próximos, por causa das copas das árvores, que faziam-lhes ecoar. Todos os guerreiros da tribo rapidamente se dirigiram ao seu encontro, somente para constatar que a pobre menina havia sido engolida por uma sucuri às margens do rio. Xavante, com a faca que anos antes ganhara de um homem branco e que foi usada para matar muitas de suas caças, abriu o estômago da cobra sem perda de tempo, mas já era tarde. A índia havia sufocado. Meses mais tarde, enquanto procurava por macacos para abater com sua zarabatana, junto a outros caçadores de sua tribo, viu homens caindo vagarosamente do céu, em estranhas asas gigantescas. Eram paraquedistas do exército em treino nas selvas amazônicas. Xavante e seus amigos foram de encontro aos tais homens, onde acabaram por encontrar o líder dos PQDs, que foi convidado para ir até a tribo. Lá, os índios lhes ofereceram tapurús torrados e carne de anta. Xavante, que já admirava os homens brancos, pediu ao comandante para ser levado até a civilização, pois não queria mais viver ali, porque tudo lhe lembrava a esposa morta. Obviamente que o militar disse a ele que isso era contra as normas do exército. Não seria possível. Xavante garantiu que chegaria até a grande aldeia dos brancos, por sua própria conta, atravessando a selva amazônica. Não só os militares, mas também seus companheiros de tribo riram dele copiosamente. Dois dias após os paraquedistas terem partido, Xavante encheu sua mochila com alguns pertences e saiu na direção apontada pelos homens brancos. Apesar de topar com caça abundantemente e abate-la, Xavante começou a emagrecer muito, até se tornar um palito humano. Em certa ocasião, ficou dias sem encontrar água e foi salvo por uma súbita chuva que caiu no trecho onde estava. Nesta ocasião, o índio havia confeccionado lanças grandes, pois sabia que precisaria delas caso topasse com alguma onça, e foi o que aconteceu. Xavante gelou quando avistou a fêmea, destrinchando um quati. Tentou retornar por onde viera sem que ela o avistasse, mas seu cheiro o denunciou. Xavante correu para dentro de um tronco oco de uma árvore muito larga a apontou suas quatro lanças para fora dele, evitando, desta maneira, as investidas do felino. A onça, toda machucada após varias perfurações superficiais, acabou por recuar. Xavante sentiu um súbito alivio, pensando estar novamente a salvo, mas o companheiro da onça, que não estava longe dali, apareceu, e, cheio de ódio, investiu contra as lanças, chegando a quebrar a ponta de uma delas, mas assim como a fêmea, não conseguiu passar pela abertura, desistindo em seguida. Nove meses após ter abandonado sua tribo, Xavante chegou a Manaus, com um sorriso exausto no rosto. Logo, conseguiu emprego como ajudante de pedreiro, mas seu salário era tão baixo que mal dava para se alimentar. Sem conseguir alugar uma casa ou barraco para morar, acabou vivendo nas ruas e se viciou em cachaça. Em seu primeiro ano vivendo como mendigo, um grupo de solidários que doavam quentinhas ao povo de rua, e, dialogando, tentavam convencê-los a se restabelecer à sociedade, pegou o depoimento de cada um deles, no que acabou se tornando um livro que virou best seller, deixando-o, desta maneira, famoso no mundo todo. De longe, a história mais interessante do livro foi a dele.

  • Está de cara limpa hoje, índio?

  • Quem é você? Mestre de obras?

  • Eu tenho cara de mestre de obras? Vim lhe oferecer emprego, mas não no seu ramo.

  • Não estou interessado. A única coisa que aceito de alguém neste momento é a localização da minha tribo pra eu poder voltar.

  • Venha comigo. Tem minha promessa de que, após terminar o serviço que tenho pra você, lhe deixarei em sua tribo de helicóptero, se é o que realmente deseja.

Xavante olhou pro rosto estranho por alguns segundos, estudando-o, depois, lhe deu a mão para que o tal homem o ajudasse a se levantar. Achava que aquela figura iria lhe oferecer dinheiro por um assassinato, como era comum na região. Ele estava disposto a topar, desde que o sujeito cumprisse com sua promessa.

 

 

Lili Beth

 

 

 

Após ser presa por traficar ecstasy em festas rave, Lili ligou para uma tia, que acionou um advogado. Na delegacia, um homem de excelente aparência não demorou a visitá-la.

  • Que perfume maravilhoso... Deve ser francês.

  • Nossa... Você é boa nisso.

  • Conheço o que é bom.

  • Sim. Foi presente de uma amiga.

  • Amiga... Conheço isso também. Pelo tom de voz, ela é bem mais que uma amiga.

  • Ainda não. Lili... Não devemos perder muito tempo aqui. Pensei que nosso último recrutado seria o Bolado, mas já vi que estava errado. Precisamos de você.

  • Recrutado...? Bolado...? Precisam de mim? Cara, pensei que eu que estava chapadona, mas acho que você está bem mais.

  • Vou direto ao assunto. Faço parte de uma equipe altamente selecionada que está com uma vaga pendente.

  • Mermão, tu tá me deixando louca.

  • Precisamos de você na equipe.

  • Pra que? Traficar balinhas?

  • Não. Pra fazer o que você sabe melhor. Pilotar. Dirigir a alta velocidade.

  • Cara... Tô vendo que você me conhece de outros carnavais.

  • Tenho toda a sua ficha aqui comigo. Sei que é patricinha, que estudou no exterior, viajou quase o mundo todo, esteve envolvida com chefes do tráfico dos morros cariocas e por causa destes envolvimentos foi expulsa de casa sem um tostão.

  • Esqueceu de mencionar que fui deserdada.

  • Sim, esqueci. Mas isso não será mais problema pra você. Vai ganhar vinte mil por mês pra fazer algo que curtiu toda a sua vida. Rachas. Sei que adora velocidade e carros possantes.

  • Não é a toa que meu filme preferido é Velozes e Furiosos.

  • Que tal nós sairmos daqui agora mesmo e irmos ao cinema assistir a terceira continuação dele?

  • Garotão, tu tá mesmo drogado. Te ocorreu que acabei de ser presa em flagrante delito?

  • Te ocorreu que meu nome é Quebra-Galho e portanto acabei de quebrar o seu, te arrumando um mandado de soltura imediato?

  • Como conseguiu isso?

  • Esta é uma conversa que devemos deixar pra um outro dia.

E foi assim que Lilian Elisabeth se tornou a décima quinta recrutada do esquadrão do coronel Jacinto.

 

 

 

 

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